Animania Antiga

Animes antigos que passaram na RTP há cerca de 10-15 anos ou ainda mais!

segunda-feira, agosto 27, 2007

Olá!

Finalmente podem ver os DVD's da Ana dos Cabelos Ruivos no site do Planetade Agostini!

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Espero que gostem!

terça-feira, agosto 07, 2007

ENTREVISTA A MARGARIDA ROSA RODRIGUES
01/08/2007

Fomos gentilmente recebidos por esta simpática actriz, que partilhou connosco as suas memórias sobre os diversos trabalhos que fez em dobragens de séries de animação. Iniciámos a conversa relembrando (com imagens) alguns dos seus trabalhos mais marcantes, como o Zezé, a Lili e a galinha Cristina de “A Senhora Pimentinha”, o Kiki de “Tao Tao”, a Rainha Ana de “Os Três Mosqueteiros”, a Lena e a gata Furu de “Bia, a Pequena Feiticeira” e a Princesa Catrina de “Raio Azul”. O nosso muito obrigado à Margarida pelo seu trabalho, que foi e continua a ser importante para nós, e pelo agradável momento que nos proporcionou ao conceder-nos esta entrevista.

Pode falar-nos um pouco do seu percurso como actriz?
Eu nasci em Angola. Vim para cá fazer um curso de arquitectura de interiores. Na altura em que já tinha acabado o meu curso, fui frequentar o Ar.Co em algumas artes plásticas: escultura, desenho – pintura não, porque nunca quis muito pintar -, seriagrafia, fotografia, enfim, várias artes. Nessa altura, fui ao Conservatório frequentar umas aulas de dança e aí mudei de ideia e pensei que não era nas artes plásticas nem na decoração onde ia ser o meu percurso. Isto foi antes do 25 de Abril. O Conservatório estava em grandes remodelações, numa chamada experiência pedagógica e portanto aceitava pessoas de fora. Eu conheci todas aquelas pessoas do teatro e pensei que era por ali, portanto depois larguei toda a parte que era das artes plásticas e fui fazer o Conservatório. E aí foi o princípio de tudo. Ser actriz era uma coisa que eu nunca quereria. Estava longe de mim, porque tinha tido uma experiência qualquer em pequenina num palco, um nervoso, esqueci-me das deixas... Ser actriz era uma coisa longe da minha ideia, mas depois, já mais crescidinha, achei que era por ali que eu ia conseguir resolver-me, expressar-me. O meu caminho seria por ali.

Então começou no teatro…
E comecei no teatro! Fiz umas quantas peças. Estreei na Cornucópia num papel do “Woyzeck”, do Büchner, em 1978. Estava mesmo a acabar o Conservatório. A minha peça final do Conservatório foi já depois dessa peça. Depois fiz duas coisas com o Teatro Universitário, na Cantina Velha. Fui fazendo uma coisa aqui, uma coisa ali… E em 1982 é a altura em que me convidam para fazer um papel nas dobragens. E são as dobragens que me conseguem ir dando dinheiro para eu ir vivendo, porque só com o teatro nunca teria conseguido.

Qual foi a primeira série que fez?
A primeira coisa que eu me lembro de ter feito foram dois episódios do “Tom Sawyer”, dirigidos pelo João Lourenço. A seguir, o João Perry fica também a dirigir e chama-me então para o meu primeiro grande papel, numa série chamada “Belfy e Lillibit”, onde trabalhei com a Maria de Medeiros. Isto é o princípio. Depois, vieram várias coisas… Fiz “Era uma vez o Espaço”, em 1984, também dirigida pelo João Perry. Então, começa a dirigir também o António Montez (com quem fiz “A Senhora Pimentinha”). Dos directores todos que eu conheço, o António Montez deve ter sido o mais exigente. Como vocês sabem, quando estamos a dobrar, os bonecos batem as boquinhas e quem faz as traduções nem sempre tem os bonecos à frente, de maneira que, quando aparecem os bonecos e temos o texto, nem sempre as coisas coincidem. Portanto todos os directores emendam o que é necessário emendar, porque às vezes o boneco está ali a bater com a boquinha e a gente tem quatro coisas para dizer. Outras vezes, temos uma data de linhas e o boneco bate um bocadinho a boca e acabou! Não dá para conseguir enfiar tudo lá dentro! (risos) Portanto, há sempre imensa adaptação dos desenhos e dos textos. O João Perry mudava imenso e o António também. Mas o António mudava aquilo com imenso rigor. Realmente, de todos os directores com quem trabalhei, o António Montez deve ter sido talvez aquele que era mais exigente. E havia uma coisa extraordinária que agora não acontece, com a técnica. Hoje, a gente está a ver o boneco em televisões e grava. Se nos atrasamos na entrada, a máquina puxa a nossa frase toda para trás. Se por acaso há uma pausa maior, eles vão e “esticam” a coisa. Portanto, nós podemos gravar mal que tudo se resolve tecnicamente. Na altura da “Senhora Pimentinha”, nós gravávamos com fita. Era num estúdio grande da Nacional Filmes, onde tínhamos um enorme ecrã. O filme era todo partido aos bocadinhos e cada bocadinho era colado – chamava-se àquilo pescadinhas. Eles punham a pescadinha na máquina e nós estávamos todos juntos a gravar, não era um a um. E tínhamos que acertar todos nalguma vez! Não havia muitas pistas. Hoje, as mesas de dobragem têm pistas e pistas, tanto assim que cada um grava na sua pista. Na altura tinha 3 ou 4: uma pista para os actores, uma pista para o som, uma pista para o som de referência e depois alguma outra para os gritos ou para a música… Nós tínhamos que gravar todos ao mesmo tempo e tínhamos que acertar todos nas bocas ao mesmo tempo! Se havia um que tinha dormido mal e que não acertava nas bocas, os outros podiam ter todos acertado mas tinham que fazer tudo outra vez! E a pescadinha ia andando na máquina sempre. Aquilo chegava ao fim do take (uns 30 ou 40 segundos), recomeçava e nós recomeçávamos também até acertarmos todos ao mesmo tempo. Às vezes havia um que não ficava muito bem, mas ficava melhor… Já estávamos ali há que tempos e depois íamos ficando um pouco embaraçados… A falhar, a falhar, os outros todos a repetir, era um pouco chato! (risos) Mas eu acho que era um muito bom ambiente, era muito engraçado. E depois tinha aquela coisa maravilhosa de às vezes ver e ficar impressionada a olhar para o ecrã da televisão: “parece mesmo que eu estou a falar ali”. Não havia aquela coisa de agora, o boneco continua a bater a boquinha e não há lá som nenhum, ou ao contrário. Era extraordinário, mas era difícil.

E no caso dessa série ainda havia uma dificuldade acrescida porque vocês faziam muitas vozes. O elenco era relativamente reduzido…
Imensas vozes! Eu acho até que nem nos pagavam para a quantidade de trabalho que a gente fazia, mas era divertido. Enquanto actriz, era muito enriquecedor, porque obrigava-me a descobrir coisas em mim que eu não sabia. Obrigava-me a estudar a mim própria. Fazer uma voz “assim”, uma voz “assado”. Foi uma escola para mim, uma coisa extraordinária e maravilhosa. Fui-me dedicando a isto de uma maneira, que aquela ideia que as pessoas têm – “ah, os actores que fazem dobragens, coitados…” ­– para mim não era nada disso, porque eu estava sempre lá a fazer o meu trabalho com imensa alma. E divertida, porque muitas vezes parei takes e interrompi por me estar a rir, por me estar a divertir enquanto estava a fazer. Era um tempo muito agradável.

E depois da “Senhora Pimentinha”?
Fiz “O Vento nos Salgueiros”, onde eram poucas vozes das mulheres, era tudo homens. Era eu e a Teresa Madruga. Foi o João Perry que dirigiu. “Oom e o Piu Piu”, que era um amor de uma série para crianças muito pequeninas. Era um pintainho, uma coisa amorosa. Também foi o Perry que dirigiu. O “Tao Tao” foi o Montez... Fiz alguns episódios da “Rua Sésamo”, dirigidos pelo António Feio. Depois o “Hey! Bumboo”, o “Patrácula”… “Os Três Mosqueteiros” foi o António Montez, o Cadichon também foi o António Montez… O “Sindbad” acho que também foi ele… “O Raio Azul” foi o Perry que dirigiu. Havia a “Madalena”, que era a Ermelinda [Duarte] que dirigia. Já é mais recente, de 95… Isto é o que me consigo lembrar. Depois do “Cadichon”, começaram a pôr mais pessoas a dirigir. Também fiz uma série de dobragens com o Carlos Freixo.

Que era o seu marido nos “Três Mosqueteiros”… (risos)
Exactamente. E o Carlos passou também a dirigir. Já há uns anos que ele dirige, na Matinha, filmes da Disney. A última série em que trabalhei com ele era muito engraçada, chamava-se “Os Dinossauros”. Também dobrei com a Carmen [Santos] a dirigir, fiz várias séries com ela. Ela é maravilhosa a dirigir. E, mais tarde, com o Rui de Sá. Trabalhei com várias pessoas, mas as boas memórias são um bocadinho mais para trás, porque isto da técnica ser muito desenvolvida faz com que aquela coisa da equipa que havia no princípio se perca um bocadinho. Quando vamos dobrar sozinhos, aquilo não tem a mesma graça, porque a nossa relação é entre nós e o boneco – só! – ao passo que antigamente aquilo era uma espécie de “todos juntos”, era uma coisa absolutamente viva, era como se estivéssemos no palco, embora não tivéssemos o público, mas estávamos ali. Pode ser que haja outros actores que gostem mais, mas para mim não é a mesma coisa, até porque os sons dos outros, podemos ter referência no auscultador, mas é uma coisa completamente diferente. Estamos a seco, estamos só nós e o boneco. A emoção é diferente e eu gostava mais de antigamente.

Então podemos recordar mais um trabalho dessa época áurea, que é “Os Três Mosqueteiros”, uma série que tem imensos fãs. Que recordações é que guarda desse trabalho?
Para mim, foi um papel difícil, porque a minha voz não era tão grave. Aquele tom que era obrigada a fazer era gravíssimo, porque tinha que puxar a voz cá para baixo e portanto dava-me a sensação de que era sempre monocórdica, não tinha expressões. Se me queria emocionar mais ou ficar mais zangada, se queria rir, achava sempre que saía daquele tom e deixava de ser rainha e passava a ser princesa, porque a minha voz era mais aguda, mais fininha.

Mas fez muito bem!
Obrigada! Isso é óptimo de ouvir, mas realmente foi um papel difícil, diferente daqueles meninos e aquelas meninas que eu fazia, que era só puxar um bocadinho a voz e já ficava lá… Mas foi bom, era uma equipa fantástica. O Carlos Freixo é um dobrador incrível, é fantástico a dobrar. Ele muda inflexões, muda conforme os personagens, muda a rapidez de voz…

Nesta série, ele fazia também a voz do mosqueteiro Aramis, que se vestia de homem mas era, na verdade, uma mulher. A voz que ele fazia era fantástica, porque estava “a meio caminho”.
Ele muda a voz de uma maneira extraordinária e acerta sempre! Mas eu acho que todos esses actores eram bons. Há uma coisa muito curiosa: o facto de ser um bom actor não significa que seja um bom dobrador. Há actores fantásticos que não são bons dobradores, porque os ritmos que eles têm para dizer as coisas não são os ritmos da máquina, dos bonecos. E portanto, quando começam a falar, o boneco já acabou, ou esquecem-se do papel… E são bons actores, não está isso em questão. E às vezes há bons dobradores que acertam sempre nas coisas e que representam bem e que também não são assim tão bons no palco ou cá fora. É uma coisa muito engraçada. Neste caso, acho que eram bons actores e bons dobradores. Fizemos isto no tal estúdio enorme da Nacional Filmes e ainda dobrávamos todos juntos. Já havia a possibilidade de algum actor gravar separadamente, mas ainda fizemos todos juntos. Às vezes era complicado, porque eram muitas pessoas. Via-se o que é que íamos fazer no dia seguinte. Se havia algum actor que só aparecia a meio do episódio, então podia ir mais tarde. Os actores também precisam de dormir, não é? (risos) Era um trabalho que a gente fazia quase sempre a meio tempo. Fazíamos todas as manhãs e à segunda-feira fazíamos manhã e tarde, porque os actores normalmente folgam à segunda-feira. Havia séries em que não era possível, porque estava o estúdio ocupado de manhã, então fazíamos à tarde. Eu acho que a “Belfy e Lillibit” eu gravei sempre à tarde. Não sei se vocês têm ideia, mas é um trabalho muito cansativo, não só para a voz mas mesmo para a cabeça, porque aquilo exige imensa atenção. Uma coisa também muito curiosa em termos de representação é que, se uma pessoa não descansa bem, não dorme o suficiente, vê-se logo, porque as entradas não são a tempo, há um cansaço quase imperceptível na conversa, mas que em termos da máquina, a capacidade de reacção do actor está deficiente, de maneira que aquilo são milésimas de segundo mas o suficiente para não entrar no sítio certo. Os actores mais conscienciosos sabiam que tinham que dormir pelo menos umas tantas horas para que no dia seguinte a coisa funcionasse como devia ser. Mas faz parte da nossa profissão, temos obrigação de fazer direitinho, não é? (risos)

Há alguma situação cómica de que se recorde?
Não, assim pormenores não. Às vezes distraía-me e largava-me a rir no meio da minha fala ou no meio da fala do outro, portanto a coisa ficava mal e tinha-se que recomeçar. Porque eu divertia-me a fazer. Às vezes as cenas eram muito cómicas e fazia-me rir. Assim uma cena muito cómica não me lembro…

Algo que a tenha marcado…
Que me tenha marcado, foram algumas coisas. Por exemplo, eu tinha muita dificuldade em fazer gargalhadas, ao princípio. Não tinha muito domínio daquilo, de maneira que passei algumas vergonhas com o António Montez, porque eu queria rir e aquilo saía-me muito mal (risos), ficava ali takes e takes a ver se conseguia sair uma gargalhada. Foi um bocadinho complicado. Até que tive de aprender tecnicamente como fazer aquilo. Disso lembro-me, passei algumas vergonhas… Assim cenas da gente se ter escangalhado a rir, é como aquelas cenas dos filmes. Acontecem muitas vezes, porque a língua se prende e fica uma coisa gaga ou a palavra não sai direita, sai com o “R” no sítio errado, essas coisas assim provocam sempre riso, porque as pessoas estão ali todas concentradas. Alguma coisa que saia daquela concentração, escangalha-se tudo a rir. Lembro-me de uma vez, não sei já em que série, em que houve uma coisa destas, em que largou tudo a rir e depois queríamos recomeçar, começávamos a dobrar e largávamo-nos a rir no mesmo sítio.

O que é que pensa do facto da RTP ter deitado fora o vosso trabalho, as dobragens que vocês tão bem fizeram?
Acho absolutamente lamentável. Com as técnicas que existem hoje, podiam ter guardado, porque é um registo, aliás, do trabalho deles, que foi pago. Eles pagaram, deviam ter guardado. Não para fazer negócio, mas como registo da própria televisão. O departamento infanto-juvenil que eles tinham era uma coisa que funcionava muitíssimo bem.

E nós, os fãs, não queremos outras vozes nas séries, portanto isto agora é um problema, porque se as séries forem lançadas, a RTP não tem as dobragens…
Vão ter que fazer, se houver a vontade de se fazer outra vez, mas provavelmente serão outras vozes, porque já há actores mais novos incorporados nestas equipas.

Não é a mesma coisa, porque nós estamos habituados às vossas vozes. Estamos habituados à Rainha Ana com a sua voz, ao Aramis com a voz do Carlos Freixo, etc.
Eu percebo isso, mas nem consigo compreender como é que a RTP fez uma coisa dessas. Em termos de registo da história de uma televisão, devia haver.

As séries de animação são coisas que marcam uma geração inteira, por isso não se compreende como é que eles fizeram isto.
Não consigo compreender. Nem sabia! Eu pensei que eles tivessem isso arquivado lá num canto. Acho uma coisa mesmo triste… Há pessoas que são muito importantes, dirigem muito bem e fazem crescer muitos dinheiros, como o Sr. Emídio Rangel, que conseguiu destruir uma coisa que toda a gente achava que funcionava, porque se vocês eram pequeninos e viam estas séries, é porque a coisa funcionava. E conseguiu, pela sua maneira de dirigir os departamentos, destruir esta coisa. Os actores diziam que gostavam de fazer isto e que não era propriamente o dinheiro que nos levava a fazer isto. E não era! Mas isto é um trabalho muito complicado, muito difícil de fazer, exige muito do actor. E não é qualquer um que faz, como eu já vos expliquei. Portanto devemos ser remunerados justamente em relação ao trabalho que fazemos. Não é pelo facto de gostarmos muito e de querermos fazer as coisas para as crianças que devemos ganhar uns “amendoins”. Era o que ele queria. Ele dizia que “Se gostam tanto de fazer, qual é o problema? Façam, que a gente paga isto.” E nós não queríamos isso, não é? Estou a dizer isto quase como uma reclamação. Foi principalmente a partir dessa altura que a qualidade passou a ser muito inferior. Eu, quando olho, hoje em dia, para as séries, não acho muita graça. E as dobragens eram boas. Quando vemos os filmes que passam em Espanha e são dobrados, aquilo é como se fossem sons originais, não há lá boquinhas fora do lugar. Era como nós fazíamos aqui com os bonecos animados, o que desapareceu. Não estou a querer acusar os meus colegas. Só estou a dizer que, com o dinheiro que ganham, se calhar estão-se nas tintas para a maneira como a coisa sai, se vai um bocadinho mais dentro da boca ou menos dentro da boca. Porque isso também contribui. Se me dão 10 reis para estar ali uma hora, então vou fazer o máximo de horas possível e seja o que Deus quiser! Se calhar, hoje em dia, parte da má qualidade que existe é por causa da má organização, do mau funcionamento das coisas e do mau pagamento, evidentemente. Tenho muita pena que um dia tenham destruído a maneira como este departamento da televisão funcionava. Estou a dizer isto com um bocado de lástima, com um bocado de pena, porque ter acontecido assim foi mau. Foi mau para nós todos.

Para terminar, quer falar-nos um pouco do que faz actualmente, ou do que tem feito nos últimos anos?
Felizmente, tive a oportunidade de ir trabalhar para o Teatro São Carlos, na parte do palco, da cena. Fui chamada pelo João Perry, que foi convidado a certa altura para fazer uma encenação lá e eu já tinha trabalhado com ele no teatro, como assistente. Portanto, digamos que alarguei o meu trabalho para a parte de assistência de encenação, porque também trabalhei com a Silvina Pereira e com outros encenadores. E então fui parar à ópera, que é um sítio muito bonito, maravilhoso, de que eu sempre gostei, porque alia o teatro à música. E portanto durante algumas temporadas, de vez em quando – não é sempre, porque os encenadores portugueses não são muito convidados para fazer encenações e não são todos que me querem, porque cada um tem os seus colaboradores e portanto vão escolhendo conforme lhes apetece, mas às vezes há encenadores estrangeiros que vêm e precisam de mais colaboradores, ou de alguém que faça a ligação aqui e portanto de vez em quando lá vou eu fazer uma assistência e também já fiz duas encenações na ópera. Fiz uma semi-cénica, “Viúva Alegre”, que apresentei em Macau e depois na Madeira, e fiz o “Matrimónio Secreto”, uma ópera muito engraçada do Cimarosa, que apresentei no São Carlos e, mais tarde, na Figueira da Foz. E tenho feito umas coisinhas nas novelas. Já não faço teatro há uns cinco anos. Mas tenho uma história muito gira para vos contar: na altura em que estava a fazer a primeira assistência na ópera, com o João – era uma ópera também do Cimarosa mas uma coisa bélica, “Horácios e Curiácios”, uma ópera que tinha a ver com as guerras de Roma – havia uma cena onde existia uma mulher com duas crianças. Houve um dia em que aquela senhora não pôde ir, porque tinha um compromisso qualquer, e eu, como era assistente – pau para toda a obra (risos) – lá fui fazer de mãe, para estar com as crianças no palco. Então eu estava lá com as crianças e um virou-se para mim e disse-me: “Eu conheço-te!”. Eu perguntei: “Conheces daqui, não é?”. “Não, eu conheço-te! Tu és…” e disse o nome de uma personagem das dobragens. Achei uma história encantadora, nunca me esqueço. Conto sempre essa história, que acho uma coisa absolutamente ternurenta. Ele conhecia-me pela voz, percebeu perfeitamente quando me ouviu ali a dar ordens no palco. É uma boa recordação. E vocês também são uma coisa muito boa, enchem-me a alma! (risos)

Nós é que queremos agradecer as excelentes dobragens que fez e o contributo que deu para a nossa infância.
Ainda bem que se divertiram. E guardem essa infância convosco muitos anos, porque este mundo é muito complicado. Guardem isso o máximo de tempo que puderem!


Aqui fica uma mensagem da Margarida Rosa Rodrigues para os fãs (especialmente para os fãs de "Os Três Mosqueteiros", como podem comprovar na parte final):








sexta-feira, agosto 03, 2007

Parede pintada com os nossos desenhos animados de todos os tempos!

Olá a todos!!
O JC encomendou uma pintura a uma amiga pintora muito talentosa chamada Natacha Santos, à qual eu dou os meus parabéns desde já! É uma rapariga fantástica com imenso talento, ao qual eu ao olhar para as fotos desta pintura senti-me esmagada completamente por tanta beleza!

A temática desta pintura eram os desenhos animados antigos... a malvada e sedutora Milady com o seu charme inconfundível, o Dartagnan, a Bia a pequena Feiticeira, a Alice do País das Maravilhas, a Ana dos Cabelos Ruivos, o Tom Sawyer, a senhora Pimentinha, o Puchi (agora mais conhecido como Bana e Flapi), a Flora da Família Robinson, entre outros!!

Deixo aqui em baixo os links.
O site dela está ainda em construção.


http://www.pinturadequartos.com/

E aqui podem ver directamente as fotos desta fantástica pintura!
Fotos da parede

Se quiserem ver diáriamente o blog da Natacha Santos este é o endereço:

http://vermelhodevagarinho.blogspot.com/

Comentem!

quarta-feira, agosto 01, 2007

ENTREVISTA EXCLUSIVA A FERNANDA FIGUEIREDO (a voz de tantas personagens das “nossas” séries) PARA O ANIMANIA ANTIGA

(Toda a entrevista é propriedade exclusiva do mesmo; no caso de querer citar, por favor indique a fonte)



O Animania Antiga conseguiu contactar a actriz Fernanda Figueiredo, que fez as vozes de várias personagens que adoramos, e ela teve a simpatia de nos conceder uma entrevista, a qual segue em baixo.



Grupo Animania Antiga - Antes de mais, muito obrigada por nos dar esta entrevista.


CC - Em primeiro lugar, onde nasceu?


Fernanda Figueiredo – Em Lisboa.


CC – Qual foi o seu percurso académico?


Fernanda Figueiredo - Fiz o sétimo ano de Letras, depois fiz o curso do Conservatório Nacional de Arte de Representar e Encenação e frequentei dois anos de Direito (não acabei).


CC - Por favor, fale-nos das influências que teve, de coisas ou pessoas que a tenham influenciado e marcado.


Fernanda Figueiredo – A influência que eu tive foi a educação que os meus pais me deram e os meus avós. E, na altura, não havia leis para as crianças não frequentarem espectáculos, então eu muito novinha, quase bebé, não direi bebé mesmo, mas miúda mesmo, frequentei teatro. Não havia peça nenhuma a que os meus pais e os meus avós não fossem e eu acompanhava-os sempre, de maneira que, com a história de ver teatro e ver cinema, sempre gostei muito da arte, tudo ligado à arte sempre me influenciou bastante. Não obstante, nunca pensei seguir a carreira artística, porque o grande sonho que eu tive de miúda era ser médica. Esse sonho acabou no 5º ano, porque chumbei. Chumbei, quer dizer, houve uma deficiência na parte de Ciências e nós não podíamos seguir e eu, para não ter de repetir, fui para Letras e daí depois foram aquelas variantes todas que já contei. Acontece que eu fiz o curso liceal no Colégio Moderno, o Colégio Moderno feminino (acho que já não existe, era na Avenida D. Carlos) e havia sempre a festa de finalistas. Pertencia à Mocidade Portuguesa e aí o meu professor da Mocidade Portuguesa de Arte de Representar quis que eu entrasse na peça dos finalistas. Antes eu tinha estado (antes de ir para o colégio) no Liceu Maria Amália, de onde saí e passei para o colégio. No Liceu Maria Amália, sempre que eu quis entrar numa festa disseram-me sempre que não, que eu não tinha jeito para nada. Quando eu disse isto ao Manuel, disse “Ah, Senhor Professor, não, mas não pense que eu vou entrar na festa de finalistas, que sempre disseram que eu não tinha jeito nenhum para nada”. “Ai disseram? Ainda bem, agora é que vais entrar mesmo!”, disse ele como actor. E então juntou-se a festa de finalistas das meninas com a dos rapazes do Colégio Moderno, porque ele era professor também dos rapazes. E aí nós fizemos então “Os dois Cavaleiros de Verona”, que foi representado no Colégio Moderno dos Rapazes (a Maria Barroso, nessa altura, era a directora do colégio, ainda o pai do Mário Soares era vivo, estava na sua cadeirinha de rodas, sempre à porta do colégio a receber os alunos) e foi assim que eu, pela primeira vez, fiz teatro e que adorei. O que é que acontece? Ele tinha vários programas na Emissora Nacional e começou a convidar-me para entrar em programas juvenis, infantis e havia um dos programas infantis (que não era ele que dirigia, era uma senhora na altura (…)), que era todos os sábados em directo, na Emissora Nacional. E eu comecei por fazer historinhas, interpretar historinhas, nesse programa. E depois noutros programas; sempre que havia crianças e não sei quê, normalmente eu entrava a fazer, porque tinha uma voz muito aguda na altura. Depois tive de fazer aulas de interpretação de voz e tudo isso, porque tinha a voz assim um bocadinho [imita a voz que tinha e risos]. E então foi assim mais ou menos, o percurso foi este, as voltas todas para chegar… Entretanto, aparece a televisão, a RTP. Eu era aluna nessa altura… Minto, não era aluna ainda no conservatório, mas estava a estudar, estava ainda a estudar para Direito, mas não gostava nada daquilo. E o que acontece é que eu tinha pessoas amigas, de família, que estavam ligadas à RTP, na altura, e começaram a precisar de miúdos para fazerem algumas figurações. E eu fui. Numa das primeiras vezes que fizeram uns programas - até com o Artur Ramos, na altura - , eu fui lá fazer umas variações (entrava muda e saía calada), depois começaram a dar-me umas figurações mais importantes, digamos assim, com uma palavrinha (“Bom dia!”, “Boa tarde!”, “Faz favor”, “Com licença” e está a andar) e há um programa que surge que era do actor Álvaro Benamor, que estava na altura no Teatro Nacional e que era professor também do Conservatório. E ensinou-me para ir a um programa que era “Os Provérbios”, um programa que havia de provérbios (isto era tudo em directo, não havia gravações na altura; não nos podíamos enganar, de maneira nenhuma). Então ele começou a experimentar-me e eu fui fazer, já com a importância de falar e de interpretar. E o Álvaro Benamor perguntou-me “Mas como é que tu começaste nisto?”. E eu contei-lhe a história toda, do meu professor da Mocidade Portuguesa de Arte de Representar, que na altura eles eram colegas, e ele diz-me assim: “Então olha, tu gostas mesmo disto, está-se mesmo a ver que gostas mesmo disto. Então aconselho-te a ires para o Conservatório Nacional.”. Aí eu estava num lado, ia para as aulas do Conservatório, depois desisti do outro lado e fiquei só no Conservatório. E fiz o curso do Conservatório assim. Quando acabei o Conservatório fui para o Teatro Nacional D. Maria II. E começa a carreira aqui. Pelo meio, como aluna do Conservatório, ainda fiz parte do teatro infantil, na altura dirigido pelo António Manuel Couto Viana. E aí foram N peças que fiz, de que já nem me recordo, mas por onde passaram os maiores nomes do teatro, não direi de agora, porque a maior parte já não existe, mas uma grande parte. E pronto, começa assim a carreira [risos].


CC – Quais os seus gostos e tendências? A nível do seu trabalho, do teatro…


Fernanda Figueiredo – Bom, teatro gosto imenso, mas eu gosto de um teatro que seja para todos. As peças muito intelectuais… Não me parece que sejam mesmo teatro. E vou dizer-vos que “teatro” é uma palavra grega. E o que quer dizer em grego é “imitação da vida”. Ora não me parece que a maior parte de certas peças que se vêem por aí seja uma imitação da vida; e eu gosto é de teatro, que é isso mesmo, que toda a gente entenda. Claro, não gosto de porcarias, é evidente, mas desde que seja feito, escrito, interpretado, encenado com muita dignidade e com muito respeito, o público está lá de certeza. E não há teatro sem público. E quando a gente vê determinados espectáculos que só uns é que entendem, então não é espectáculo. Assim como no cinema, a mesma coisa. A gente gosta de ver um bom filme, mas tem de ter uma boa fotografia, uma boa montagem, uma boa sonoplastia, uma boa realização; o realizador é fundamental e tem de perceber disso tudo. E tem de perceber de representar e dirigir os actores, que é uma forma de estar diferente do teatro. O teatro tem uma forma de representar, o cinema tem outra, a televisão tem outra. Cada um tem as suas características próprias e não vamos misturar tudo! Por isso é que fazemos muita coisa muitas vezes e nada sai perfeito, porque ninguém admite que cada coisa tem a sua ciência, a sua arte. Portanto, desde que as coisas sejam bem feitas, as minhas preferências (como na música, como na pintura, tudo isso) estão exactamente dentro deste âmbito de que eu vos falei.


CC – Já nos falou um pouco disso, mas, se quiser acrescentar alguma coisa, queríamos pedir que nos falasse um pouco do seu percurso no teatro.


Fernanda Figueiredo – Depois de me estrear no Teatro Nacional D. Maria II, com a peça “O Alfageme de Santarém”, em que eu fazia a Alda, o principal papel (não foi nada fácil, tive logo como par romântico, aliás, pares, dois homens, que era o D. Nuno Álvares Pereira, que era o João Perry, e era o Alfageme de Santarém, que era o Fernando Curado Ribeiro. Não era nada fácil, não é? [risos] , naquela altura)… Mas foi muito agradável, gostei imenso, quer dizer, fiquei muito lisonjeada, até porque vinha do Conservatório com o Prémio Garrett e isso trazia uma grande responsabilidade sobre mim e que a Dª Amélia Rei Claro me deu nessa altura a importância daquele papel. Depois fiz outras peças lá no Nacional, “Eva e Madalena”, dirigida pela Palmira Bastos, e mais uma ou outra e entretanto surge uma hipótese de vir para o teatro comercial, como lhe chamam, que era farsas. E então fui para a companhia do Henrique Santana, fazer aquelas comédias de que as pessoas gostam (não eram comédias, eram farsas, que há uma diferença entre uma coisa e outra, no estilo de representação). Anos e anos estive nessa companhia, onde figurava o António Silva, que fez de meu pai várias vezes, a Irene Isidro, a Maria Helena Matos, a Luísa Durão, o Costinha, o Luís Horta, o Henrique Viana (que foi um dos meus primeiros namorados neste tipo de teatro e que morreu agora, como vocês sabem). Pronto, e daí… Estive lá imensos anos, cheguei a ir fazer digressões a África com os espectáculos… A partir daí começa a minha vida a saltitar depois para outras companhias, estive na companhia do Augusto Figueiredo também (era outro género, porque nós só levávamos teatro português, tudo o que fossem peças nacionais era a função dessa companhia do Augusto Figueiredo, que era patrocinada pela Câmara Municipal de Lisboa, e portanto tínhamos mesmo essa questão, digamos, de divulgação de teatro português, de autores portugueses); também estive lá uma série de anos, quase durante o tempo em que a companhia existiu. Acabou depois mais tarde, no Teatro São Luiz. Só se fizeram lá um ou dois espectáculos. Penso, se a memória não me falha, que houve um que nós fizemos mas depois não conseguimos estrear ou fizemos uma antestreia, mas depois a censura cortou e não foi avante. Entretanto acabou a companhia aí. E pronto, depois foram variadíssimo: o Teatro Aberto, entretanto surgem esse tipo de companhias. Estive também numa companhia do Luís de Sttau Monteiro. Este é mais ou menos o percurso. O nome das peças já não vos posso dizer, de uma grande parte delas também já não me recordo.


CC – Pode falar-nos também do seu percurso nas dobragens de desenhos animados?


Fernanda Figueiredo – As dobragens acontecem em Portugal já há uma série de anos. Começaram a fazer um programa infantil no qual eu não entrei e era uma coisa com bonecos. Eu não vos posso falar muito desse trabalho, porque não entrei, mas sei que esse trabalho foi o que deu a iniciativa para a ideia das dobragens dos filmes e séries estrangeiros e tudo isso. Um programa que existia, salvo erro “Carrocel Mágico”. Eu nem sei bem quem eram os actores, sei que um deles era o Luís Horta, mas não me lembro já quem eram os outros. E daí é que eles começaram a pensar. Portanto, isto é anterior à minha entrada nesta vida das dobragens. Acho que eles depois ainda fizeram uma dobragem, que era a “Heidi”, em que eu também não entrei. E a segunda dobragem que fizeram foi o “Marco”, em que eu entrei logo a fazer o papel do “Marco” (risos). E isso acontece, porque eu estava no teatro, mas fazia também muita publicidade e dobrava normalmente os modelos que apareciam na publicidade, porque alguns vinham do estrangeiro, tinham de ser dobrados para Português, e havia outras pessoas que eles filmavam mas que nós depois tínhamos que ir dobrar… Ah, porque, simultaneamente ao teatro, eu também fazia rádio e tive programas de rádio igualmente, porque fiz também um curso - esqueci-me disso - para locutora, que não existia em Portugal, pois não havia faculdade desse tipo de trabalhos, de Comunicação Social, digamos. E fez-se cá em Portugal um curso de Comunicação Social e eu fui fazer esse curso e então depois fiquei também com uma carteira de locutora. Daí, com o curso de teatro conjuntamente com a carteira de locutora, ia fazendo também as locuções de vários programas e também da publicidade. Da publicidade habituei-me à dobragem. No estúdio, quando eles começaram a fazer as dobragens, os meus colegas (que nós todos nos conhecíamos nessa altura) dizem “Vamos chamar a Fernanda Figueiredo para fazer o papel do Marco!”. [risos] E a partir daí nunca mais parei. Vêm depois aquelas séries todas de que vocês já têm conhecimento, “Os Três Mosqueteiros”, o “Dartacão”, “Os Polegarzinhos”, o “ Tao Tao”, o “Jack - o Urso de Tallac”, o “Tom Sawyer”, a “Abelha Maia” também (onde fiz a professora Cassandra) e tantos mais, que uma pessoa já nem se lembra de todos os que já fez. E era só a RTP que dobrava e portanto praticamente estava em todos, porque era uma equipa que éramos quase sempre os mesmos a fazer, porque estávamos tão calhados uns com os outros, parecia uma equipa de Futebol, a gente já sabia para onde passar a bola. E era do género… Não era um de cada vez. Agora faz-se as dobragens individualmente, na altura não. Era: há cinco personagens, cinco microfones, dois em cada um se fossem dez; era “Chega-te para lá” e não sei quê, “que agora sou eu”; o filme corria, tínhamos o texto à frente, se um se enganava tinha de se repetir tudo outra vez, que era aquele estilo que se chamava a “pescadinha”. Portanto, o que eu estava a dizer era que era sempre mais ou menos a mesma equipa e era sempre a RTP que fazia. Depois começaram a aparecer as outras estações e muito mais tarde é que eles começaram a fazer programas infantis também, porque de início não faziam, era só a RTP 1 e a RTP 2 que fazia a programação infantil, mais nada. E eu achava muito interessante, nós tínhamos todos muito cuidado, quando havia coisas musicais eram chamadas as pessoas da música, portanto, os maestros, os cantores… Porque nós cantávamos, só que éramos dirigidos por maestros! E então um era o José Mário Branco, o Pedro Osório, o Paulo de Carvalho, o Jorge Machado também nos dirigiu… porque ele fez até o “Romance da Raposa”, que foi uma coisa até dirigida por mim e pelo Paulo. Faço a raposa…


CC – A Salta Pocinhas…


Fernanda Figueiredo (risos) – Exactamente! A música e a direcção eram do Jorge Machado. E era tudo feito com muito cuidado… A língua também, nós tínhamos muito cuidado, na forma como estava tudo escrito, se estava bem escrito, mal escrito… Também ainda havia censura, não há dúvida, determinadas palavras não se podiam dizer, mas havia sobretudo um cuidado muito grande com a Língua Portuguesa, que nós não nos podemos esquecer de que a Língua Portuguesa é um património nacional e hoje muita gente não sabe que a Língua Portuguesa é um património nacional e estamos realmente a adulterar completamente, usando palavras de países que têm uma forma de falar muito mais pobre do que a da nossa língua. E isso é triste, mas acontece… Pronto, quando aparecem os outros canais, começam as guerras, começam as selvas e começa a qualidade a falhar. Aquilo havia uns cachés X, depois começa a luta porque o outro faz mais barato, o outro não sei quê, e umas guerras tais que hoje em dia é o que se vê! Não gosto… Não faço comentários! Porque uma frase que me disseram numa estação (ainda eu dirigia, porque eu até há pouco tempo dirigi sempre e ensinei sempre como é que se deveria dobrar)… Chegaram a dizer-me que não me estavam a pedir qualidade, mas sim quantidade!!!

Grupo Animania Antiga - Que horror!!!


Fernanda Figueiredo – Portanto, agora façam o que quiserem…


CC – Nós íamos perguntar-lhe que desenhos animados dobrou, mas já falou um bocado disso, não sei se quer acrescentar alguma coisa…Fernanda Figueiredo – Sim, já falei um bocado disso, mas houve outros, uma série deles… “O Pequeno Drácula” também…


Karura – Sailor Moon…


Fernanda Figueiredo – Sim, esses todos…


CC – E quais os desenhos animados que mais a marcaram e por que razão?


Fernanda Figueiredo (risos) – Desde que eu goste de fazer o trabalho, eu apaixono-me por cada série que faço! E achei sempre que dava tudo!
Houve um trabalho que eu gostei muito de fazer que foi um trabalho para a National Geographic, que era sobre os animais, mas era em desenhos animados e realmente isso foi uma das coisas que eu gostei muito de fazer, esse trabalho. Mas era um estilo de documentário (em desenho animado) que era a vida da bicharada. E realmente foi muito interessante, esse trabalho. Estava a ver se me recordava assim de mais alguma coisa que seja assim fora do comum… Não, de momento não, mas pode ser que entretanto me recorde!


CC – Qual a personagem ou as personagens que mais a marcaram ou que mais gostou de fazer por alguma razão? Nós podemos ajudar com nomes, não é verdade?... Dentro d’”Os Três Mosqueteiros”, do “Tom Sawyer”…


Karura – Da “Sailor Moon”…


Fernanda Figueiredo – Olhe, eu gostei de fazer a Sailor Moon, não há dúvida que sim, mas é uma série um bocadinho… Para aquelas que eu estava habituada a fazer tinha um bocado de agressividade. Claro que o “Dragon Ball” tinha muito mais! Mas o “Dragon Ball” era mais para os rapazes do que propriamente para as raparigas. E tem a ver um bocado com a maneira de ser dos orientais, não é muito à maneira ocidental. Mas para fazer é engraçado, não há dúvida nenhuma, porque tinha que haver imensa criatividade. E fugia um bocadinho àquela cantilena japonesa que nós ouvíamos como som de referência; e tínhamos de esquecer um bocadinho, interessava-nos realmente era que as palavrinhas entrassem na boquinha dos bonecos e que tivesse a condizer e que desse realidade. Foi interessante, foi bastante interessante, este tipo de trabalhos, porque também foram séries muito grandes, muito compridas e com uma continuação: veio um primeiro, aquilo rendeu muito, e então “Vamos fazer uma segunda e uma terrceira”, não sei quantas edições é que aquilo teve! Agora aquelas histórias mais convencionais, o “Dartacão”, adorei fazer o “Dartacão” também (agora não estou a falar d’“Os Três Mosqueteiros”, mas sim do “Dartacão”). E eu fiz um “Dartacão” primeiro antigo e fiz o “Dartacão” mais moderno.


Grupo Animania Antiga – “O Regresso de Dartacão”


Fernanda Figueiredo – “O Regresso…” , sim, a continuação! Onde entrava já o António Semedo como moscãoteiro. Esse até foi feito na Novaga já, esse novo “Dartacão”. Foi bastante interessante também. Eu também gostei muito de fazer o “Pequeno Drácula”, também achei imensa piada àquilo. Fazer um Drácula bonzinho era muito engraçado (risos).


CC - Nós os três sentimo-nos indignados pelo facto de a RTP ter deitado fora as magníficas dobragens que vocês fizeram na altura. O que tem a dizer sobre isso, o que pensa disso?


Fernanda Figueiredo – Penso que a RTP nessa altura não devia ter lá pessoas com cérebro, possivelmente robôs e esqueceram-se de introduzir que há determinadas coisas importantes na vida, programas, neste caso, que deveriam ser preservados e arquivados como museu. Ora esses robôs não estavam programados para isso e então foi uma grande falha, de facto, é lamentável! Precisávamos de humanos com cabeça.


CC – Nós agora queríamos passar um bocadinho para as séries mais em específico, neste caso começar por falar d’”Os Três Mosqueteiros”, que é
uma série que tem muito sucesso entre os portugueses. Por exemplo, no nosso blog e numa petição online para que a série seja editada pode ver-se que há imensos fãs. Queríamos fazer umas perguntas sobre a série. Primeiro, lembra-se de como foi fazer esta dobragem, tanto em termos do seu trabalho a fazer a voz da personagem Jean, como no contacto com os outros actores que faziam as outras personagens?

Fernanda Figueiredo – O contacto com eles foi sempre muito bom, foi sempre de uma grande camaradagem. Apesar de nós termos sempre um director que nos dava as indicações, nós auxiliávamo-nos uns aos outros e nunca houve aquele problema “Eu quero, posso e mando” nem, quer dizer, se sabíamos que um colega estava atrapalhado em qualquer coisa ou havia uma palavra qualquer que não estava a jeito, nós sugeríamos e… Era uma família, realmente, sem problemas de “Ai, Deus queira que ele falhe ou que ela falhe ou que este seja melhor!”, não, isso não existia, não existia. Era realmente uma equipe, como eu disse há bocadinho, e realmente nós queríamos era que saísse uma coisa muito boa! O importante era a obra e, neste caso, uma obra de Alexandre Dumas é muito mais importante e com muita responsabilidade.


CC – Como eu disse, “Os Três Mosqueteiros” é uma série que deixou muitos fãs em Portugal... Aquela história fascinou e continua a fascinar muita gente. Na altura em que a série passou na RTP deu-se conta desse sucesso que a série estava a ter e COM as vossas vozes, porque as vossas vozes são muito importantes, aquela dobragem, a forma como falavam… Deu-se conta disso na altura ou só mais tarde, como foi?


Fernanda Figueiredo – Toda a criançada falava! Nessa altura, quando sabiam que estava ali a pessoa que fazia aquela voz era uma alegria e nós também ficávamos muito contentes, no meio daquilo tudo às tantas já estávamos como eles, numa brincadeira! Tínhamos essa noção, sim, e sobretudo se vivíamos ao pé de uma escola isso ainda mais se sentia. Por exemplo, eu nessa altura estava em Carcavelos, em frente aos Maristas, ao colégio, portanto frequentava aquilo; ali toda a gente se conhecia e então a criançada, claro, sabia e aquilo era uma festa! E com os meus colegas era a mesma coisa, passava-se o mesmo, de facto!


CC – Como é que criou as características da voz do Jean?

Fernanda Figueiredo – Olhe, eu vou dizer-lhe no geral. As características das vozes… Quando nós vimos os bonecos, parece que nós deixamos de ser nós, é como o teatro, encarnamos as personagens! De tal maneira que não somos capazes de falar de outra maneira. É como o teatro, eu visto o fato com que vou para cena, ponho a cabeleira, a pintura e não sei quê e deixo de ser eu, a minha identidade ficou no camarim. E já não sou capaz de falar de outra forma, entro num palco e tenho de dizer aquelas palavras, porque nem sequer estou a pensar que estão decoradas. É assim, só posso responder que não tenho outra hipótese de responder. Com os desenhos animados acontecia exactamente a mesma coisa, embora nós estivéssemos a ler, é diferente, mas víamos aquelas personagem e nem era preciso aquilo do “Deixa-me ver como é que eu fiz essa voz, fiz ontem e não sei...”. Não, não era preciso, saía logo, logo! Não pode ter outra voz, tem de ser assim! Portanto até a tirada é momentânea. Por isso é que eu digo que fazer uma voz de algum boneco sem estar a vê-lo é complicado, porque sai sempre uma voz que eu queira fazer naquele altura, que me está na cabeça, mas acaba por ser a minha voz, no fundo: disfarçada, mais aguda, mais grave, de velha, de novo, não sei quê, mas não é propriamente aquela personagem.


CC – E, neste caso, o Jean era uma criança e um menino! E no entanto a sua voz ficou perfeita!


Fernanda Figueiredo – Pois é, eu às vezes só perguntava (não no caso dos desenhos animados, mas por exemplo mais para a publicidade): “Com quantos anos é que vocês querem que este miúdo fale, que este miúdo tenha?”. Porque às vezes era aquela idade indefinida e não sei quê. “Que idade é que este miúdo tem?”. “Tem 12, tem 10!”. “Ah, pronto, está bem!”. E com a imagem saía. É uma coisa que se sente.


CC – O Jean na série contracena muito com o D’Artagnan e a voz do D’Artagnan é feita pelo actor Miguel Guilherme. Como foi contracenar com ele?


Fernanda Figueiredo – O Miguel Guilherme é uma jóia. O Miguel Guilherme é uma jóia de companheiro, de actor, de pessoa. Embora não tenha tido muito trabalho com ele continuado, mas sempre que trabalhei com ele realmente demo-nos sempre lindamente e acho que é um excelente actor e uma excelente pessoa.


CC – Há mais algum dos actores dos que fizeram vozes nesta série (posso mostrar-lhe a lista, para avivar a memória) com que tenha gostado especialmente de contracenar ou de fazer alguma cena ou que se lembre de alguma coisa engraçada relacionada com eles?
Fernanda Figueiredo (lê a lista) – Carlos Freixo, José… Ah, o José Raposo tem histórias engraçadíssimas! A Luísa salgueiro, o António Montez (que era quem dirigia), o António Marques, Carmen Santos, Luís Mascarenhas e Margarida Rosa Rodrigues. Olhem, eu acho que a gente se ria sempre muito com as histórias que o Zé Raposo contava, com as coisas que lhe aconteciam! Era um bem-disposto! Aliás, ele ainda hoje é assim, é uma pessoa extremamente bem-disposta! Depois ele é extremamente distraído, acontecia-lhe tudo e mais alguma coisa! (risos). E primeiro que a gente entrasse às vezes a funcionar era tremendo, porque estávamos todos perdidos de riso! Havia um intervalinho, bom, saía logo um disparate qualquer, que aquilo era sempre perdidos de riso! As paragens às vezes eram mais por causa das piadas que surgiam! Pronto, era um bom ambiente, é o que eu vos digo, era mesmo a alegria no trabalho! Era mesmo a alegria no trabalho, como antigamente se dizia do INATEL e chamavam-lhe a alegria no trabalho! (muitos risos) E era o caso! Não, mas lembro-me deles todos e realmente foi uma equipe muito engraçada! O José Pedro Gomes também, é outro indivíduo também que tem imensa graça, como vocês sabem, não é?! É um actor excelente! E o Carlos Freixo também, também é amoroso, a Carmen Santos… Todos eles! O António Marques também é um bem-disposto! É o que eu tenho a dizer, realmente era uma equipe fantástica, não há dúvida! E houve outros, não desta série, mas que faziam parte também deste grupo de actores noutras séries. Tinha que ver com as vozes, não é? Porque às vezes havia figuras que se precisava de outro tipo de vozes também. Mas era uma equipe muito gira, de facto, muito gira! Era de tal maneira que nós íamos sempre almoçar todos juntos! Sempre, era sempre, era fantástico mesmo! Nós queríamos era andar sempre acompanhados uns com os outros! Era mesmo divertido!


CC – Quais são os episódios ou cenas que mais a marcaram ou de que mais se lembra?


Fernanda Figueiredo – Bem, aquela cena do juramento deles com as espadas, essa está sempre na mente das pessoas, não é?! “Um por todos e todos por um!”, toda a gente tem essa em mente, não é?


CC – Há uma cena de que muita gente se lembra, que é quando o Jean descobre que o Aramis, na verdade, é uma mulher.


Fernanda Figueiredo – Ah, é verdade, e aliás eu tenho uma ideia que havia uma cena qualquer em que um era mulher, pois! Pois, isso foi divertidíssimo, foi! Isso foi divertidíssimo! Eu nem sei se nós soubemos disso logo do início da série! Nós não tínhamos os episódios logo todos, vinham aos bocados! Eu tenho impressão…


JC – O Carlos Freixo (o Aramis) nos primeiros episódios faz uma voz normal e depois…


Fernanda Figueiredo – Normal e depois começa a perder! Exactamente, exactamente, agora recordo-me! Porque nós não tivemos conhecimento inicial que ele era mulher! Coitado do Carlos! (risos)


CC – Agora vamos para umas perguntas generalistas sobre a série. Gostava de ver esta série editada em DVD?


Fernanda Figueiredo – Adorava! Não posso dizer mais nada! Adorava! Aliás, adorava ver todas, todas aquelas que nós fizemos, até no início da nossa carreira, porque realmente é uma coisa… Pronto, é uma Torre do Tombo! (risos) E é giríssimo sempre rever e recordar, porque recordar é viver!


CC – O.K, fica esta mensagem também para as editoras, da sua parte!(risos do grupo todo)


CC - Pode deixar-nos uma mensagem para os fãs desta série e da personagem do Jean (que foi a personagem que fez)?


Fernanda Figueiredo – Para os fãs? Eu espero que, depois deste lançamento que vocês vão ter, desta vossa iniciativa que acho admirável e que louvo e que vos dou os parabéns e espero que tenha uma grande continuidade e, como disse, façam daqui a relativamente pouco tempo um festival, o primeiro festival desta vossa iniciativa!... Para os fãs, da minha ida… Quer dizer, não é da minha idade, da geração anterior à minha, portanto aqueles que viram, eu dou o meu agradecimento por ainda se lembrarem! Não é? E por ainda existirem! Espero que esse clube de fãs vá aumentar com o vosso trabalho!


CC – Fez a voz também da prima Maria na série “Tom Sawyer”. Pode falar-nos um pouco, do que se lembra, de como foi dobrar esta série?


Fernanda Figueiredo – Foi uma dobragem bastante divertida, até porque é uma história clássica, é um clássico. E acho que havia um companheirismo de facto próprio dos miúdos e isso gerou realmente uma amizade, uma camaradagem entre miúdos daquela época, e era interessante que essa camaradagem surgisse nos miúdos de agora! (risos) Era interessante, porque efectivamente isso marcou!


CC – A voz que criou para a Maria, a prima do Tom Sawyer, é bastante diferente da que criou para o Jean. Pode falar-nos disso?


Fernanda Figueiredo – Claro que é, porque são personagens completamente diferentes.


CC – Mas é muito giro e eu francamente admiro a capacidade que vocês têm de entrar nas personagens e fazer vozes diferentes…


Fernanda Figueiredo – Foi aquilo que eu vos disse há bocado, aparece uma imagem e é “Esta mulher ou este miúdo só pode ter esta voz!”! E sai! Sai!


CC – Houve alguma coisa de que se lembre particularmente nesta série? Ou com o elenco ou qualquer coisa…


Fernanda Fiegueiredo – Acho que houve uma queda qualquer… Mas já não sei se foi nesta rodagem… Quer dizer, vibrei tanto naquela história que atirei-me para o chão! (risos) Agora não me recordo se foi mesmo aí, se foi noutra série, mas isso acontece, há coisas que acontecem assim! É como por exemplo… Foi no “Dartacão” que os actores, quando jogaram à espada, jogaram tanto, tanto, tanto, que até bateram no microfone e tudo! Estavam naquela que já estavam em duelo mesmo uns com os outros, a jogar à espada! Isso aconteceu variadíssimas vezes! Tumba, vai o microfone para o chão e não sei quê [imita as vozes durante as lutas]. São daqueles episódios que, na altura, a gente ri-se por tudo e por nada! Aquelas histórias como na escola, uma coisa qualquer e rimo-nos todos muito! E aqui acontecia a mesma coisa! A gente estava no estúdio e divertia-se imenso!


CC – O “Tom Sawyer” é outra série com muitos fãs em Portugal. Quer deixar alguma mensagem para eles ou a mensagem é a mesma que a outra?


Fernanda Figueiredo – É a mesma coisa! Aliás, os que vêem uma série e gostam vêem a outra, porque é tipo telenovelas, acaba uma e começa outra! E nós nunca estávamos parados! É que não se parava mesmo, aquilo era sai uma e entra a outra, acaba uma e começa a outra, sempre, sempre, sempre, sempre! Uma continuidade de trabalho espectacular! Espectacular!

Karura – Em relação à Sailor Moon agora... (risos) Quais eram os aspectos que mais gostava na personagem da Bunny?


Fernanda Figueiredo – O que é que eu gostava mais nela...? Ela era um bocadinho...


Karura – Desmiolada? (risos)


Fernanda Figueiredo – Sim. Não era assim muito normal. Isso não era, não senhora. E com aquelas manias todas de conseguir tudo... Com a varinha... Mas no fundo o que eu gostava mais é que ela era boa rapariga! Era desmiolada, mas era boa rapariga! E ajudava sempre os outros! O ideal dela era ter um bom coração e isso é muito importante!




Karura – Quais foram os episódios que mais a marcaram? Algum em especial?

Fernanda Figueiredo – Houve uns episódios que me marcaram e que eu sugeri até que não fossem para o ar, umas cenas, digamos, não é episódios...! Que eram tão agressivos...

Karura– Mais ou menos quais?

Fernanda Figueiredo – Não me lembro bem… Era de uma agressividade tão grande! Era uma tareia qualquer quase até à morte de alguém que já não me recordo, que eu sugeri que cortassem a cena. E cortaram! Cortaram mesmo! Isso foi uma coisa que me afligiu um bocado!


Karura – Mas foi das primeiras séries?


Fernanda Figueiredo – Foi das primeiras séries! Foi das primeiras séries, parece-me...

Karura – Não foi quando as navegantes morreram?

Fernanda Figueiredo – Não, não... Foi com um indivíduo qualquer, com uma personagem qualquer que aparecia e que tinha um problema qualquer…


Karura_ – Agora fiquei curiosa...(risos)


Fernanda Figueiredo – Pois, não me recordo bem, mas sei que isso aconteceu. Era de uma crueldade tão grande e depois com cemitérios e não sei quê, ficou uma coisa muito complicada... Espero não estar a misturar com nenhuma série... Mas penso que foi na Sailor Moon que isso aconteceu, na Lua Navegante.


Karura – Pois é estranho, porque o "Dragon Ball" era um pouco mais violento...


Fernanda Figueiredo – Pois... Mas os japoneses são um bocadinho violentos... E isso para nós...


Karura – Choca às vezes um bocado...


Fernanda Figueiredo – É...! É que a violência que não é normal passa! A gente diz “Ah, pronto! É desenho!” Agora aquela não, era uma coisa que se podia mesmo sentir! A criança podia mesmo ficar traumatizada com isso.


Karura – Fiquei mesmo curiosa... Como é que se deram conta da troca do sexo dos gatos no desenho animado? (risos)


Fernanda Figueiredo – (risos) Essa é muito gira, pois é! Ficámos divertidíssimos… Com a história e ao mesmo tempo a arranjar...


Karura – Esquemas para ligar... (risos)


Fernanda Figueiredo – Para ligar... Para fazer do gato, gata e da gata, gato! Porque de facto era uma coisa... Lá está, nós também não sabíamos do outro que era mulher, não era? Foi exactamente a mesma situação, foram surpresas! De repente, “AI O LUNA É GATA!” (risos). E depois lá se arranjou aquele esquema como vocês sabem (risos). Mas foi tudo inventado. Quer dizer, tivemos que reescrever aquele bocadinho, que foi uma historieta que não vinha nos textos originais e a gente reescreveu aquilo tudo para encaixar a situação... Porque acho que já não me lembro bem o que a gente escreveu, mas resolveu-se a situação. O que é preciso é resolver a situação, não é verdade?


Karura– Pois, eu hoje em dia não consigo ver o Luna como uma gata! Não faz sentido... (risos)


Fernanda Figueiredo – Pois, não faz sentido! É que tinha uma atitude de gato... Desde sempre teve uma atitude de gato! Desde sempre!


Karura – Era mais másculo... (risada total)


Fernanda Figueiredo – Era... A Luna toda coisa, cheia de brilhantes, não era? Era bicha! (risada total) Era gata bicha... (risos)


Karura – Como é que foi gravar a “Sailor Moon” com os outros actores, quando o texto era demasiado cómico? Tiveram alguma vez algum ataque de riso? Como é que foi?


Fernanda Figueiredo – Bem, na “Sailor Moon” já era o sistema de gravação individual. Já não era o de conjunto como era nos primeiros tempos, como eu contei. Ali não, ali cada um gravava à sessão. Já era diferente e aí a gente divertia-se com qualquer disparate que nós fizéssemos, ou com o técnico, ou com o actor que estivesse ali que se ria, ou que chegasse mais cedo, ou estivesse para assistir... Era isso! De resto, já não havia tanta coisa cómica, como episódios a gravar... Já era diferente.


Karura – Não se lembra de nenhuma cena que tenha tido de repetir algumas vezes?


Fernanda Figueiredo – Ah! Isso variadíssimas vezes!


Karura – Daquelas mesmo “AHHHHHHH!!!” De rir! Porque a Bunny dizia muitos disparates logo todos de seguida...


Fernanda Figueiredo – Montes de disparates, todos de seguida (risos). Mas já estava dentro daquela personagem, já era maluca! Já era normal, já era a Bunny mesmo que entrava no estúdio! Estás a ver? (risos) E, portanto, já não se ria dela própria porque era mesmo assim, encarnava a personagem... Pronto, lá está! É isso!


Karura – E gostava de ver esta série editada em DVD?


Fernanda Figueiredo – Claro! (risos) Pede-se...


Karura – E uma mensagem para estes fãs? Tem mesmo um clube de fãs!


Fernanda Figueiredo – Eu penso que sim... Pelo menos havia, havia um grande clube de fãs por aí fora, é natural que ainda existam...


Karura– Pois, há um site e tudo...


Fernanda Figueiredo – Pois, é natural que exista e, com este trabalho que vocês estão a fazer, é possível reviver e alargar.


Karura – E uma mensagem para as editoras?


Fernanda Figueiredo – É giro, por exemplo, para mostrar aos filhos, os jovens que futuramente vão ser pais mostram aos filhos! Pode ser que eles também se interessem e vá por aí fora... Não é? (risos)


Karura– Podia falar-nos um pouco de António Semedo (a voz do gato Luna)?


Fernanda Figueiredo – Com certeza! Falo com muita saudade... (silêncio) O António Semedo para mim era como um irmão... E comecei a trabalhar com ele era ele bastante mais novo que eu. Filho de um dos actores Artur Semedo e Maria José, irmão da Rita Ribeiro, como vocês sabem. E era uma jóia de moço, uma jóia de rapaz, trabalhei não só com ele nas dobragens como também no teatro. Fizemos programas musicais, andámos em tournê e nalguns teatros e fizemos um programa musical brincando com os Marretas ao vivo; e era escrito por ele e cantávamos as músicas todas dos Marretas. E as letras eram do António Semedo, porque ele, além de ser um bom actor, escrevia também muito bem, e era um poeta. Não há dúvida nenhuma. E é daquelas pessoas que olhe... que partiu... porque era bom de mais...!


Karura – Obrigada.


Grupo Animania Antiga: Muito obrigada por tudo.




Mensagem áudio de Fernanda Figueiredo para os fãs destas séries:




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